quarta-feira, 16 de setembro de 2015

O amor, a unicidade e o Cosmos.





"- Pai, hoje uma menina da escola se matou..."
A vida é um livro enorme, e mesmo que humanamente ela seja curta, é pouca mas é intensa, desde a primeira respiração até o ultimo suspiro, tudo que acontece de um ponto ao outro, é surpreendente, sendo assim, a vida é um brinde entre a transformação e o ineditismo. Eu posso até ter a mesma rotina que uma outra pessoa muito parecida comigo, mas os sentires são diferentes, meu verde pode ser mais claro, meu vermelho pode ser mais vivo, meu branco amarelado e o cinza realmente ser igual, mas nunca olharemos o mundo da mesma forma, com os mesmos gostos e cheiros.
Na verdade estamos unidos pela proximidade destes sentires, e apesar de sermos racionais, ainda somos animais, e vivemos em bandos, manadas, alcatéias, grupos, enxames e reproduzimos intuitivamente o desejo da maioria.
Não questionar é seguir o covil, o cardume, é se isentar de seu senso critico.
Somos bem mais do que pensamos e bem menos do que acreditamos ser...
O que é um nariz grande perto do universo?
Representamos em matéria as energias, o cruzamento de varias delas, somos o epicentro desta teia, somos únicos, estamos sozinhos enquanto indivíduos, em corpo e essência.
Acho que isso se chama unicidade.
Mas pode ser que seja apenas o Cosmos.
Pensando nesse livro, nas escritas passadas, nas tantas canetas e tintas, nas rasuras mal feitas, nas palavras ilegíveis, quem é que pode julgar, de forma justa e humana, o sentir de quem quer que seja, pra alem de seu próprio sentir?
Debaixo de meu bairro, cheio de casas e prédios, urbanizado e pavimentado, localizado próximo ao pulmão da selva de concreto e aço, passa um rio.
Existe um Rio que passa sem ver o sol, sem fazer muito barulho, mas é só chover que ele transborda..
Somos instinto e condicionamento,
Lutamos por sobrevivência gerando mortes,
Lutamos por liberdade aceitando aprisionar,
Brigamos por amor agindo com desamor.
Somos eterna contradição e não sabemos lidar com o contraditório.
Sim, é complexo se encontrar no mundo,
Se encontrar e se desconstruir,
Se desconstruir e se reerguer,
Se reciclar e ir se lapidando rumo a uma nova criação.
Se soltar da forma que nos molda, das normatividades impostas como verdades incontestáveis, é necessario para nossa evolução.
Dói para transgredir, deixa o corpo dolorido de tanto tentar escapar do molde estabelecido, posto muito antes da gente nascer.
Fazer com que uma ideologia sobreviva pra além daquilo que a sociedade tem como aceitável, me faz lembrar a rotina de vida de meu primo Edson Lopes, um atleta fitness, que passa a maior parte de sua vida se reeducando fisicamente, submetendo seus músculos ao desgaste em busca de resultados, todos os dias se exercita, controla sua alimentação, se dispõe a abrir mão de alguns prazeres rasos em prol de definição muscular e saúde.
As vezes escrevemos somente aquilo que queremos ler e por fim só lemos o que de fato importa para nós, mesmo que seja preciso mudar o sentido das palavras a nosso favor, feito aquele regime que sempre começa e termina numa mesma segunda-feira.
Por exemplo, se eu acredito que liberdade é uma coisa boa e válida, me conectar a pensamentos e ações libertárias é o primeiro passo para começar a esculpir esse novo corpo de idéias e novas percepções, dai pra frente precisamos ir disciplinando e reprogramando nosso ser, assim feito meu primo atleta em busca de superação.
Se eu entendi que não reciclar lixo ferra o mundo, e eu gosto do mundo, obviamente reciclo por mim e pelo todo.
Se eu entendo que o machismo ferra a mulher, que é um ser humano, me acreditando ser humanitário, sem duvidas alguma, por lógica, vou buscar remar contra os comportamentos que me tornam um machista.
Se a água de minha cidade esta acabando, e eu compreendo o quanto ela é vital, tudo que não vou fazer é varrer a calçada com a mangueira ligada.
Todos nós buscamos, com unhas e dentes, por amor, e isso significa ter voz, ter colo, respeito, carinho, reconhecimento, conforto, ter os direitos assegurados, viver dignamente, liberdade para escolher o caminho que melhor lhe couber.
A impressão que tenho, é que temos esse nosso Livro intimo e intransferível, porem, assim que nascemos, colocam por cima dele um outro, onde ao invés de escrevemos folha a folha, seguimos apenas a completar frases já estipuladas, feito aqueles jogos de palavras, daquelas revistas de caça palavras da coleção Coquetel.
Precisamos deixar de fazer corpo mole e deixar de ter medo do efeito do ácido láctico, que é aquela dor que azucrina o corpo depois dos primeiros dias de retorno para academia, e que faz muitos desistirem de continuar se esforçando.
No Pain, no Gain!
(Sem dor, sem ganho)
O quanto estamos dispostos a sermos seres humanos melhores?
O quanto estamos dispostos a lutar por uma sociedade igualitária?
O quanto estamos dispostos a enxergar pra além de nossa raiva, angustias, insatisfações e dramas?
O quão importante é para nós, um mundo melhor?
O que é ter um mundo melhor?
As paginas estão sendo viradas, mas quais paginas? As de nosso livro, ou a do que colocaram por cima, a mudar nosso foco?

E por fim, buscando ou não por isso, vamos sempre brigar por um amor, que não é nem meu, nem o seu, um amor construído para nos separar, doente de julgamentos, de amarras, de cascas e cascas de cimento e lagrima, um amor que pesa, que machuca, que cega e encarcera.

Um amor que mata
A vida
Os sonhos
Os afetos
E o proprio amor
Como pode?

Ps: - Pai, hoje uma menina da escola se enforcou, falaram que é por que a mãe dela proibia ela de ver o namorado, ela tinha 17 anos.

Jairo Pereira.

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